Serviços Gerais O que você faz quando percebe que a placa que sinaliza o ponto de ônibus está danificada? Ou quando passa por uma praça e vê uma estátua, ou uma mesa de damas, meio abandona, esquecida e suja? Aliás, quantos detalhes desse tipo nós realmente vemos? Não seria arriscado dizer que atualmente a vida na cidade – e, especialmente, em uma cidade como São Paulo – virou sinônimo de pressa e, consequentemente, falta de atenção e descaso. Entretanto, algumas práticas artísticas contemporâneas buscam falar exatamente sobre esse desinteresse cotidiano e jogam luz à questão do alheamento urbano. A série Serviços Gerais, do Coletivo Trinca SP, merece destaque dentre essas iniciativas. Serviços Gerais é uma série de vídeos que registram as ações promovidas pelo grupo e tem como principal mote convidar os espectadores – tanto os que acompanham, ao vivo, as ações, como aqueles que assistem aos vídeos – a uma reflexão sobre a condição atual das cidades e a nossaprópria relação com esse ambiente. A ação realizada, porém, não tem o mesmo estatuto da maioria das intervenções urbanas, dos grafites, das pichações, dos cartazes, etc. A mensagem do Serviços Gerais não é vinculada à criação e agregação de novos (ainda mais!) elementos à paisagem urbana. O que o coletivo propõe são pequenos atos que nos atentam à displicência com que tratamos a cidade. São ações que denunciam a omissão – tanto nossa quanto dos outros. Através de pequenos reparos e consertos em detalhes urbanos, o coletivo se compromete a dar uma mãozinha aos fragmentos da cidade que ela própria acaba deixando de lado. Afinal, com tantos problemas gravíssimos a serem resolvidos numa megalópole como São Paulo–impossível tentar enumera-los em um texto– quem tem tempo para consertar uma grade quebrada, limpar um busto numa praça pública, consertar uma calçada desfalcada, polir um monumento esquecido, revitalizar uma faixa de pedestres…? São esses pequenos detalhes que capturam a atenção do Coletivo e convoca-os à ação. Os registros dessas ações são demonstrações notáveis da relação entre projeto artístico e engajamento social, ao mesmo tempo em que não almejam o status de obra de arte (de museu ou de galeria) ou transformam-se em puro panfletarismo político. É um convite e uma lição: é nosso devere nosso direitomodificar, melhorar, agregar; ser cidadão em sentido pleno. Isso fica evidente ao assistirmos aos vídeos e repararmos nas reações das pessoas que testemunham as ações do Serviços Gerais. Dentre todos aqueles que caminham apressados ou que esperam pelo sinal verde, alguns dedicam um instante da sua atenção para reparar no que se passa ao redor e se surpreendem. Param, observam, investigam. Um ou outro, ainda, depois de uma melhor averiguação, cumprimenta e agradece o cuidado e o esforço daqueles desconhecidos – são pessoas que percebem que, afinal de contas, a cidade também é sua. (Laurem Crossetti) |